Atrasos de pagamento levam à paralisação de 300 médicos, e pacientes buscam atendimento em municípios vizinhos.
Autor: Eraldo Costa
A saúde pública de Guarulhos enfrenta um colapso sem precedentes, comprometendo serviços essenciais e colocando em risco a vida de milhares de moradores. A combinação de problemas financeiros, atrasos contratuais e falhas de gestão em uma paralisação generalizada dos atendimentos e agravou o cenário da saúde municipal.
Paralisação de médicos e impactos imediatos
Cerca de 300 médicos, vinculados à Organização Social Santa Casa de São Bernardo, suspenderam suas atividades devido a atrasos de pagamentos que já ultrapassaram 60 dias. Essa medida resultou na interrupção dos serviços em 69 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e 8 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) , além de dois hospitais municipais de referência: o HMU (Hospital Municipal de Urgências) e o Hospital Pimentas Bonsucesso .
Socorro em municípios vizinhos
Com isso, a espera por atendimento nas emergências de Guarulhos ultrapassa 10 horas, enquanto diagnósticos críticos, como os de câncer, estão sendo adiados. Os pacientes têm sido obrigados a buscar atendimento em municípios vizinhos, como Mogi das Cruzes, onde o Hospital das Clínicas (SUS) está atendendo parte dessa demanda.
O Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, gerenciado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) desde 2004, possui um contrato de gestão com a Secretaria de Estado da Saúde. Inaugurado em 1991, esse hospital se destaca pelo atendimento de média e alta complexidade, sendo referência em neurocirurgia, cirurgia vascular, ortopedia e oncologia(cancer), com atendimento totalmente gratuito – 100% SUS. Paralelamente, em Guarulhos, mais de 60 mil consultas e procedimentos previamente agendados estão comprometidos, agravando ainda mais o impacto dessa crise na saúde pública.
Falta de planejamento e dívidas com contratadas
Nos bastidores, o cenário evidencia uma falta de planejamento orçamentário na gestão atual, liderada pelo prefeito Guti (PSD) . A dívida acumulada com a Santa Casa de São Bernardo, somada ao não cumprimento de compromissos financeiros, revela fragilidades na alocação de recursos e na gestão de contratos.
Além disso, a má administração dos gastos discricionários, somada aos altos juros impostos pelo contexto econômico nacional e pela elevação da taxa Selic a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), compromete a capacidade de reorganização financeira dos municípios. Essa situação afeta diretamente o planejamento orçamentário. Enquanto as despesas obrigatórias, como o pagamento de médicos, continuam sem ser honradas, a saúde pública permanece em estado crítico.
Repercussões para a população
A crise na saúde pública de Guarulhos chegou a um ponto tão crítico que começa a ventilar uma solução extrema: a intervenção estadual. Um cenário semelhante ocorreu recentemente no município de saúde de Goiânia, onde o Estado de Goiás precisou assumir serviços de saúde que foram desintegrados.
Este cenário também já chama a atenção dos órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP) e o Ministério Público (MP) , que devem investigar possíveis irregularidades e omissões administrativas.
Perspectivas para 2025
Com a posse de Lucas Sanches (PL) em 2025, espera-se uma transição focada em reestruturar as prioridades orçamentárias e renegociar contratos críticos. Sua gestão enfrentará o desafio de desarmar essa “bomba-relógio” herdada e implementar medidas que promovam a sustentabilidade financeira da saúde municipal.
Modelos de Parcerias Público-Privadas (PPP) e uma reavaliação de despesas discricionárias podem ser alternativas para aliviar o déficit. Além disso, será essencial recuperar a confiança dos profissionais de saúde e reorganizar a infraestrutura básica para garantir atendimentos eficientes.
Intervenção: Um Alívio ou apenas um curativo?
Será que essa é a melhor solução para Guarulhos ou apenas mais um remendo em um tecido já gasto? Embora a ideia de intervenção seja como um resgate, ela carrega um peso político e administrativo significativo. Para que isso aconteça, é necessário um forte alinhamento entre as diferentes esferas de governo, além de um planejamento estratégico para evitar o mesmo caos em nova escalada. E quem paga essa conta? A população que já sente no bolso e na pele os reflexos de uma gestão descoordenada.
Um desafio para o presente e futuro
A situação em Guarulhos é alarmante e pode atingir um ponto sem retorno. A crise afeta diretamente a população mais vulnerável, que depende do SUS para acessar os serviços médicos. Além das filas intermináveis, a escassez de profissionais compromete diagnósticos e tratamentos, agravando condições de saúde que poderiam ser tratadas de forma preventiva. O caos na saúde pública não é apenas uma falha administrativa, mas uma ameaça concreta à vida de muitos cidadãos. O futuro da cidade depende das ações imediatas para reverter essa tragédia em curso.
Fonte: www.novatvaltotiete.com.br/www.terra.com.br/Perfil Brasil – Imagem:Foto: Reprodução / Perfil Brasil