Senador Cleitinho que não integra a comissão paralisa CPI das Bets para tietar Virgínia Fonseca.
Era para ser uma tarde de perguntas. Uma sessão em que a política ouviria, com gravidade, o impacto das apostas digitais promovidas por vozes influentes da internet. Mas no salão nobre da CPI das Apostas Esportivas, o som da investigação cedeu lugar ao brilho do improviso — e da tietagem.
O senador Cleitinho Azevedo, que sequer integra a comissão, atravessou o protocolo como quem atravessa um palco aberto. Sua fala não mirou contratos, nem buscou esclarecer estratégias de marketing. Preferiu elogiar. Preferiu sorrir. Preferiu pedir.
A economia do carisma
Cleitinho enalteceu Virginia Fonseca como quem defende um símbolo. Disse que ela “gera riqueza”, enquanto políticos gerariam “despesa”. Apelou à moral cristã e sugeriu que a influenciadora deixasse de divulgar apostas para se dedicar aos seus próprios produtos. Com o celular em mãos e os olhos voltados à mesa da convidada, fez um pedido pessoal: uma mensagem para sua esposa. A transmissão, ao vivo, registrou o gesto. E também o desconforto de quem esperava perguntas, e não confissões de fã.
O silêncio que pesa mais que a palavra
Virginia, chamada na condição de testemunha, falou pouco sobre os contratos com plataformas como a Esportes da Sorte. Negou o modelo de comissão baseado em perdas de seguidores. Disse que sua remuneração dependeria do lucro gerado, o qual nunca teria sido alcançado.
Fez questão de lembrar que cumpre as exigências do Conar. E que sempre alerta seus seguidores sobre os riscos envolvidos. Mas quando questionada sobre valores recebidos, escolheu o silêncio. Quando perguntada se pretende romper os contratos, hesitou. Disse que vive de publicidade. E que quebrar um contrato, ainda que moralmente incômodo, não é uma decisão simples.
A comissão que escorregou na própria pauta
A CPI das Apostas foi criada para investigar o impacto da propaganda de jogos de azar em públicos vulneráveis — sobretudo adolescentes. Mas, naquela sessão, a pauta foi ofuscada pelo espetáculo da informalidade.
A sessão virou cena. A interrogação virou aplauso. E a influência, que deveria ser analisada, passou a comandar o roteiro.
Fonte: Tv Senado / Editor: Eraldo Costa / Imagem: Divulgação/TV Senado