Mobilização contra Elon Musk: Intelectuais globais reagem ao controle das Big Techs e o duopólio digital.
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Assinatura da carta aberta
Por: Eraldo Costa
Na terça-feira, 17 de setembro, mais de 50 acadêmicos e especialistas de diversos países assinaram uma carta aberta condenando as pressões exercidas por Elon Musk sobre o Brasil. Os signatários, que representam nações como Argentina, França, EUA, Austrália, Reino Unido, Espanha, Suíça e Itália, fazem um apelo em defesa da soberania digital brasileira.
Alerta sobre a soberania digital
O documento expressa preocupação com a crescente influência das grandes corporações tecnológicas e a falta de regulamentação internacional para controlá-las efetivamente. A disputa entre a plataforma X (anteriormente Twitter) e o Judiciário brasileiro é vista como um exemplo crucial de como grandes corporações estão desafiando a capacidade das nações de definir suas próprias agendas digitais.
“A disputa do Brasil com Elon Musk exemplifica um esforço mais amplo para restringir a capacidade das nações de definir suas próprias agendas digitais sem a influência das grandes corporações”, afirma o documento.
Preocupações com a democracia
A carta destaca que as ações de Musk não afetam apenas o Brasil, mas também enviam uma mensagem preocupante globalmente: países que buscam independência das big techs podem enfrentar ameaças à sua democracia. Segundo o documento, as grandes plataformas tecnológicas têm o poder de moldar o debate público e influenciar políticas conforme seus interesses econômicos e políticos.
Visão geral do duopólio digital
A concentração de poder no setor digital é evidente em quase todos os segmentos da web. Dados recentes mostram o domínio de algumas empresas chave:
Navegadores: Google (Chrome) e Apple (Safari) controlam quase 85% do mercado global.
Sistemas Operacionais de Desktop: Microsoft e Apple detêm mais de 80% de participação.
Smartphones: Apple e Samsung possuem mais da metade do mercado.
Sistemas Operacionais Móveis: Google (Android) e Apple (iOS) representam mais de 99%.
Computação em Nuvem: Amazon Web Services e Azure dominam mais de 50% do mercado global.
Sistema de Nomes de Domínio: Google e Cloudflare atendem a cerca de 50% das solicitações globais.
Concentração de poder em aplicações
A concentração de poder também se reflete nas aplicações:
Buscas Online: Google realiza 84% das buscas globais, enquanto a Microsoft tem apenas 3%.
Redes Sociais: Meta (Facebook e Instagram) e ByteDance (TikTok) concentram cerca de 75% dos usuários ativos mensais.
Mensageria: Meta (WhatsApp e Facebook Messenger) e Telegram dominam, com os primeiros alcançando quase 3 bilhões de usuários e o Telegram 800 milhões.
E-mail: Apple e Google gerenciam quase 90% da correspondência eletrônica mundial.
Onda reguladora
O poder desses gigantes digitais e seus impactos negativos motivaram esforços regulatórios globais. Países envolvidos incluem a União Europeia, os EUA, Austrália, Canadá, Reino Unido, China, Índia e Indonésia. Nos EUA, o presidente Joe Biden e o Congresso estão formulando regras para limitar o poder das big techs, destacando a falta de concorrência como um problema significativo.
Iniciativas nacionais e regionais
Alguns países estão desenvolvendo suas próprias infraestruturas digitais para reduzir a dependência das grandes corporações:
União Europeia e Índia: Investindo em infraestrutura para criar mercados comuns e reduzir o controle centralizado das big techs.
Brasil: A Presidência está replicando a Digital Public Infrastructure (DPI) da Índia no G-20.
O Valor dos dados
O valor dos dados é o principal motor por trás desses movimentos. A cadeia de valor dos dados (DVC) revela que as empresas online capturam a maior parte dos benefícios devido à falta de conhecimento dos consumidores sobre o valor de seus dados.
Desafios da economia digital
A economia digital enfrenta desafios relacionados à transparência e tributação. A Organização Mundial do Comércio e os institutos de estatística ainda não abordaram adequadamente a presença e o valor dos dados na economia global. O domínio das organizações de desenvolvimento de padrões (SDOs) por grandes empresas também prejudica a inovação e a competição.
Revisão da governança da internet
Os debates sobre a governança da internet devem ir além da proteção dos direitos individuais e coletivos. É crucial abordar o impacto econômico dos modelos de negócios baseados em dados. O Brasil, sediando o evento Netmundial+10, tem a oportunidade de liderar uma discussão sobre a “refundação” da internet. A edição anterior, realizada em 2014, resultou na criação do Marco Civil da Internet, que não conseguiu enfrentar o domínio dos duopólios globais.
O momento atual oferece uma janela de oportunidade para implementar ações concretas e transformar a web antes que seja tarde.
Personalidades que assinaram carta aberta:
Brasil
Nome
Título
Helena Martins
Universidade Federal do Ceará
Prof. Marcos Dantas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Margarita Olivera
Institute of Economics, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Sergio Amadeu da Silveira
Universidade Federal do ABC
Jose Graziano da Silva
Instituto Fome Zero-Zero Hunger, ex-DG da FAO-ONU
Índia
Nome
Título
Anita Gurumurthy
IT for Change
Prof. C.P. Chandrasekhar
IDEAs and PERI, UMass
Prof. Jayati Ghosh
University of Massachusetts Amherst, Departamento de Economia
Nandini Chami
IT for Change
Estados Unidos
Nome
Título
Prof. Daron Acemoglu
MIT Economics
Dr. Jathan Sadowski
Monash University
Prof. Martin Guzman
School of International and Public Affairs (SIPA), Columbia University
Prof. Shoshana Zuboff
Autora de “The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power”
Reino Unido
Nome
Título
Assoc Prof. Cecilia Rikap
University College London, IIPP and CONICET
Prof. Cristina Caffarra
University College London, CEPR Competition RPN
Prof. Jason Hickel
ICTA-UAB e LSE
Dr. Joel Rabinovich
King’s College London
Prof. Nick Couldry
London School of Economics
Dr. Nick Srnicek
King’s College London
Prof. Phoebe Moore
University of Essex
Prof. Francesca Bria
University College London, IIPP e Stiftung Mercator
Países Baixos
Nome
Título
Çagri Çavus
SOMO
Margarida Silva
SOMO
Prof. Jose van Dijck
Utrecht University
Rodrigo Fernandez
SOMO
Argentina
Nome
Título
Prof. Emiliano Brancaccio
University of Sannio
Prof. Juan Martín Graná
CONICET e Universidade Nacional de San Martin
Prof. Martin Becerra
CONICET e Universidade de Buenos Aires
Prof. Ugo Pagano
University of Siena
México
Nome
Título
Prof. Marcela Amaro
Universidad Nacional Autónoma de México
Prof. Paola Ricaurte Quijano
Tecnológico de Monterrey
França
Nome
Título
Prof. Gabriel Zucman
Paris School of Economics e UC Berkeley
Prof. Julia Cage
Sciences Po Paris, Departamento de Economia
Prof. Thomas Piketty
Paris School of Economics e EHESS
Renata Ávila
CEO – Open Knowledge Foundation, afiliada ao CIS no CNRS França
Suíça
Nome
Título
Prof. Cédric Durand
University of Geneva
Austrália
Nome
Título
Dr. Jathan Sadowski
Monash University
Bielorrússia
Nome
Título
Dr. Evgeny Morozov
Autor e produtor de “The Santiago Boys” e “A Sense of Rebellion”
Espanha
Nome
Título
Ekaitz Cancela
Center for the Advancement of Infrastructural Imagination (CAII)
Prof. Paolo Gerbaudo
Universidad Complutense de Madrid
África do Sul
Nome
Título
Dr. Niall Reddy
Wits University
Itália
Nome
Título
Prof. Emiliano Brancaccio
University of Sannio
Dr. Raffaele Giammetti
University of Cassino and Southern Lazio
Prof. Stefano Lucarelli
University of Bergamo
Grécia
Nome
Título
Yanis Varoufakis
Secretário Geral, MeRA25
Internacional
Nome
Título
David Adler
Progressive International
Maria Farrell
Escritora
Paris Marx
Host do Tech Won’t Save Us
Sofia Scasserra
Transnational Institute (TNI)
Robin Berjon
Tecnologista de Governança
Duopólio Global e as Pressões sobre Países Emergentes
A carta aberta convoca os defensores da democracia a apoiar o Brasil na luta pela autonomia digital frente ao duopólio global e às pressões exercidas por figuras como Elon Musk. O documento sublinha que a batalha do Brasil por sua soberania digital não é apenas uma questão local, mas um desafio global que exige uma resposta coletiva. As grandes corporações de tecnologia, ao dominarem setores extratégicos e moldarem o debate público, colocam em risco a integridade das democracias e a justiça no ambiente digital. Assim, é imperativo unir esforços para garantir que as big techs respeitem as leis locais e promovam uma internet mais equitativa e transparente.
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